
O mundo se despede do “Papa dos Povos Originários”
O Papa Francisco, Jorge Mario Bergoglio, faleceu na manhã desta segunda-feira, 21 de abril de 2025, aos 88 anos de idade, em sua residência na Casa Santa Marta, no Vaticano. Segundo o comunicado oficial divulgado pela Santa Sé, o pontífice argentino faleceu às 7h35 (horário local), 2h35 pelo horário de Brasília.
De acordo com informações preliminares divulgadas pela imprensa italiana, a causa provável da morte teria sido um derrame. O Papa havia se recuperado recentemente de um quadro respiratório grave que o deixou 37 dias hospitalizado no início deste ano.
O cardeal Kevin Farrell, camerlengo da Santa Sé, foi quem anunciou oficialmente o falecimento: “Com profunda dor, devo anunciar a morte do Papa Francisco”. A notícia rapidamente se espalhou pelo mundo, gerando manifestações de pesar de líderes políticos, religiosos e representantes de comunidades indígenas de diversos países.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou seu pesar afirmando que Francisco “levou amor onde existia ódio” e que “a humanidade perde hoje uma voz de respeito e acolhimento ao próximo”.
Um pontificado marcado pela defesa dos povos originários
Para os povos indígenas do Brasil e de todo o mundo, a morte do Papa Francisco representa a perda de um importante aliado. Desde o início de seu pontificado em 2013, Bergoglio demonstrou uma atenção especial aos povos originários, defendendo seus direitos, valorizando suas culturas e tradições, e denunciando as injustiças e violências que sofrem.
Francisco foi o primeiro Papa a utilizar o termo “povos originários” em seus discursos oficiais, reconhecendo a precedência histórica e a importância cultural desses povos. Sua abordagem representou uma mudança significativa na relação da Igreja Católica com as comunidades indígenas, baseada no respeito, na escuta e no diálogo.
A voz que ecoou na Amazônia
Um dos marcos mais importantes do pontificado de Francisco em relação aos povos indígenas foi o Sínodo para a Amazônia, realizado em outubro de 2019. O evento, que teve como tema “Novos Caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral”, colocou em evidência a importância dos povos indígenas amazônicos e suas lutas.
Durante a abertura do Sínodo, o Papa pediu respeito aos povos indígenas e alertou contra as colonizações que serviram para oprimir esses povos. “Nos aproximamos dos povos amazônicos na ponta do pé”, afirmou na ocasião, destacando que os povos indígenas “querem ser protagonistas de sua própria história”.
O documento final do Sínodo reconheceu a sabedoria dos povos indígenas da Amazônia e sua relação harmoniosa com a natureza, destacando a importância de proteger seus direitos e territórios. Este documento tem orientado a atuação da Igreja Católica na região amazônica brasileira desde então.
A carta aos Guarani e Kaiowá: um gesto concreto de solidariedade
Um dos gestos mais significativos do Papa Francisco em relação aos povos indígenas brasileiros foi a carta enviada ao povo Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul em junho de 2023.
Em resposta a uma carta enviada pelos indígenas relatando a difícil situação que enfrentam em seus territórios, o Papa expressou sua solidariedade: “Quero exprimir a minha proximidade nestes momentos de sofrimento, assegurando-lhes de meus sufrágios por todos os membros do povo Kaiowá e Guarani já falecidos e de minhas preces ao Altíssimo para que se encontrem caminhos que possam garantir-lhes uma vida tranquila e pacífica na terra em que vivem”.
O pontífice concluiu com um apelo: “Faço votos que o seu clamor seja ouvido pelas autoridades competentes a fim de que a esperança renasça em seus corações”.
Esta carta foi lida publicamente pelo cardeal Dom Leonardo Steiner durante a Assembleia Geral da Aty Guasu em novembro de 2023, estabelecendo uma conexão histórica com o encontro entre Marçal de Souza, liderança Guarani e Kaiowá assassinada em 1983, e o Papa João Paulo II em 1980.
Laudato Si’: a defesa da “Casa Comum” e dos povos indígenas
A encíclica Laudato Si’, publicada em 2015, foi outro marco importante do pontificado de Francisco. No documento, o Papa abordou a questão ambiental e a relação do ser humano com a “casa comum”, fazendo referências importantes aos povos indígenas e sua relação com a terra.
No parágrafo 146 da encíclica, Francisco destacou que os povos indígenas “não são apenas uma minoria entre outras, mas devem tornar-se os principais interlocutores, especialmente quando se avança com grandes projectos que afectam os seus espaços”.
O Papa também reconheceu a visão indígena da terra: “para eles, a terra não é um bem econômico, mas dom gratuito de Deus e dos antepassados que nela descansam, um espaço sagrado com o qual precisam de interagir para manter a sua identidade e os seus valores”.
O legado de Francisco para os povos indígenas
Ao longo de seu pontificado, o Papa Francisco demonstrou um compromisso consistente com os povos indígenas, reconhecendo sua sabedoria ancestral, defendendo seus direitos e pedindo perdão pelos erros históricos da Igreja.
Em sua última mensagem aos povos indígenas, enviada ao Fórum dos Povos Indígenas em fevereiro de 2025, o Papa destacou a importância de “reconhecer o valor dos povos originários, assim como a herança ancestral de conhecimentos e práticas que enriquecem positivamente a grande família humana”.
Na mesma mensagem, Francisco expressou preocupação com a situação no Brasil, mencionando que “em 2024, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o fogo nas terras indígenas brasileiras foi o maior já registrado em mais de 20 anos”.
O falecimento do Papa Francisco deixa um vazio na luta pelos direitos dos povos indígenas, mas também um legado de respeito, diálogo e solidariedade que continuará a inspirar tanto a Igreja Católica quanto os movimentos indígenas em todo o mundo.
Como disse o próprio Francisco em seu discurso aos participantes do colóquio “Os Saberes dos povos indígenas e as ciências” em março de 2024: “A Igreja está convosco, aliada dos povos indígenas e dos seus conhecimentos, e aliada da ciência para fazer crescer no mundo a fraternidade e a amizade social”.
Reações dos povos indígenas brasileiros
A notícia do falecimento do Papa Francisco repercutiu fortemente entre os povos indígenas brasileiros. Lideranças de diversas etnias expressaram seu pesar e reconhecimento pelo apoio recebido do pontífice ao longo dos últimos anos.
[Nota da redação: Esta seção será atualizada com depoimentos de lideranças indígenas à medida que forem recebidos]
O futuro após Francisco
Com o falecimento do Papa Francisco, inicia-se o processo de escolha de um novo pontífice. Para os povos indígenas, fica a expectativa de que seu sucessor continue o legado de defesa dos direitos dos povos originários e de promoção do diálogo intercultural.
O corpo do Papa Francisco será velado na Basílica de São Pedro a partir de amanhã, e o funeral deverá ocorrer nos próximos dias, seguindo o protocolo do Vaticano.
A Rádio Yandê continuará acompanhando os desdobramentos e trazendo atualizações sobre as reações dos povos indígenas brasileiros à perda deste importante aliado.
Por Redação Rádio Yandê e Anápuàka Tupinamba Hãhãhãe
Rádio Yandê é a primeira web rádio indígena do Brasil, criada em novembro de 2013 com o objetivo de difundir a cultura indígena através da ótica tradicional, mas também utilizando as novas tecnologias de comunicação e divulgação.
Uma resposta
A Paz a todos e todas as pessoas! O legado do Papa da esperança, o Francisco, foi muito importante para a construção do ser humano. Um legado de respeito para com todas as nações e povos, ele foi capaz de reconhecer a importância da Ecologia num mundo marcado pelas desigualdades sociais, onde desmatar é a regra do consumismo. E com seu olhar de misericórdia como o próprio Deus para a natureza e o homem viu que tudo é bom O Laudato Si. O amor com / para a casa comum ‘ o planeta terra’. Obrigada Papa Francisco.