
Equador | Na polarizada disputa presidencial no Equador, dois projetos políticos se enfrentam com propostas e legados muito distintos. De um lado, Daniel Noboa aposta no desgaste do correísmo para se manter no poder. Do outro, Luisa González busca devolver protagonismo à chamada Revolução Cidadã. Mas é fora do eixo tradicional da política institucional que pode estar o verdadeiro pêndulo do resultado: o movimento indígena.
A força histórica que ninguém pode ignorar
Não existe segundo turno no Equador sem considerar o voto indígena. Mais que números em planilhas eleitorais, os povos originários têm sido protagonistas de transformações políticas profundas no país. Estiveram no centro de mobilizações que derrubaram presidentes, barraram reformas neoliberais e colocaram os direitos coletivos no centro do debate nacional.
Desta vez, esse protagonismo volta com força: no dia 31 de março, o movimento Pachakutik — braço político da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) — firmou um pacto programático com a candidatura de Luisa González, reposicionando os povos indígenas no coração do debate sobre o futuro do país.
O pacto que pode virar o jogo
O acordo entre Pachakutik e a Revolução Cidadã não é superficial. Ele responde a demandas históricas e inegociáveis dos povos indígenas:
- Defesa dos direitos coletivos diante de propostas de reforma constitucional que fragilizem garantias territoriais e culturais.
- Rejeição total à mineração em larga escala nos territórios indígenas, com foco em soberania ambiental e preservação.
- Garantia e fortalecimento da educação intercultural bilíngue, como eixo fundamental para a autonomia e valorização dos saberes tradicionais.
O gesto não é apenas simbólico. A aliança aproxima Luisa González dos mais de 5% dos votos obtidos por Leónidas Iza no primeiro turno — um capital político precioso e decisivo.
Noboa ignora — e paga o preço
Enquanto isso, Daniel Noboa, que chegou ao poder como um “renovador” desconectado das velhas estruturas, mantém sua campanha na lógica do antagonismo ao correísmo e alinhamento neoliberal. Seu governo vem sendo marcado por:
- Aumento drástico da violência e do narcotráfico.
- Cortes de energia recorrentes.
- Estagnação econômica e descontentamento popular crescente.
Mesmo assim, Noboa não construiu nenhum diálogo sério com o movimento indígena, um erro estratégico evidente. A tentativa de compensar com apoio de figuras como Andrea González (2,69% dos votos) e setores urbanos anti-Correa não tem o mesmo peso político — nem simbólico.
O voto indígena é projeto, não moeda de troca
Diferente do que se vê em muitas democracias, o voto indígena no Equador não se resume a apoio eleitoral. É uma expressão política enraizada, coletiva e com projeto próprio. Quando se alinha a uma candidatura, não é por conveniência — é por convergência.
A aliança com Luisa González não significa apoio irrestrito. Significa um pacto de corresponsabilidade, onde o movimento indígena cobra espaço real nas decisões do novo governo. É a exigência de que a política pública seja construída com os povos originários, e não para eles.
Enfim: o ser fiel da balança é também ser motor da mudança
No xadrez eleitoral do Equador, o movimento indígena não é apenas o voto que decide. É o projeto que pode transformar. Ao colocar suas demandas na mesa e exigir compromisso político com o futuro de seus territórios, culturas e juventudes, os povos indígenas estão mostrando que a democracia equatoriana passa — obrigatoriamente — por suas vozes.
Mais que decidir uma eleição, o movimento indígena pode ser o motor de um novo ciclo político no Equador. E isso muda tudo.
Fonte: TeleSUR Português – @telesur_portugues
Redação Rádio Yandê
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