Identidades negadas – Parte II

*Por Dauá Puri

Dauá Puri, durante etnovivência no Jardim Botânico da UFJF – Juiz de Fora (MG). Foto: Festival Sala de Giz e Teatro.

A cultura musical Puri

Han Jo Há, esse canto foi registrado por Spix nessa região de Ubá no período de 1800, que conta uma história do Puri que subiu na árvore para pegar uma flor e ela caiu no chão. Processo de invisibilização.

O índio Rafael, por exemplo, morava com sua família na barra do Ribeirão de Ubá, em 1819. Mas, já em 1829, vendia suas terras para Manuel de Freitas Henriques por se achar cercado de terras dadas ou ocupadas por portugueses, o que dificultava de sobremaneira a vida dos seus familiares.

O avanço sobre os territórios indígenas foi rápido no século XIX. Na lista nominativa de 1819, os índios representavam 12,6% da população de São Januário de Ubá. No censo de 1872,  a  freguesia de Ubá – que englobava também os atuais municípios de Guindoval e Tocantins – registrava a presença de 231 indígenas, o que correspondia a um percentual de 0,7% da sua população.

No censo de 1890, para uma população de 23 mil 130 pessoas, são considerados “caboclos” (índios e seus descendentes), 1 mil 55 pessoas, mostrando um aumento da presença indígena na região. Esses “índios” que aparecem nos censos da segunda metade do XIX não serão mais objeto de contagem nos censos do século XX, criando um hiato e um silêncio que só será quebrado no século XXI.

Essa omissão está diretamente relacionada no processo desterritorializante dos índios de Ubá, que foi acompanhado de um silêncio histórico ensurdecedor. Em Minas Gerais, em 2003, o Sr. Fizim Que Guarda, fala: “sempre estivemos aqui, somos nós quem protegemos essas matas, nós somos os Puri”.

Continua na última parte…

*Colunista da Rádio Yandê, Dauá Silva é da etnia Puri, do Rio de Janeiro. Um “contador e caçador de histórias”, Dauá é escritor, poeta e compositor, pesquisador da história e língua da etnia Puri, povo originário na região sudeste. Lançou o primeiro livro bilingue Puri/Português Tempo de Escuta – Alkeh Poteh e Histórias infantis, além de outras publicações. Esse artigo faz parte de sua investigação “Cultura indígena do sudeste, memória e sua guarda – Os Puri e sua Identidade“. Dauá é dinamizador cultural e membro do Movimento Indígena do Rio de Janeiro.

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