
Em entrevista exclusiva à Rádio Yandê, a Professora Doutora Évelin Tatiane Terena relata e denuncia episódios recorrentes de racismo estrutural contra estudantes indígenas durante o CAMPEAN (Campeonato Escolar de Anastácio). A denúncia expõe a falta de suporte da atual administração escolar e destaca como eventos esportivos, que deveriam promover integração, têm se tornado palco de discriminação.
A comunidade da Escola Estadual Indígena Guilhermina da Silva vem enfrentando desafios históricos que se intensificaram recentemente. Após manifestações nas redes sociais, a Escola Estadual Deputado Carlos Souza Medeiros emitiu duas notas oficiais, que foram criticadas pela superficialidade no tratamento da questão.
A professora destaca que o esporte, tradicionalmente um elemento de fortalecimento da cultura indígena, tem sido afetado pelo racismo estrutural, limitando oportunidades e ameaçando a inclusão dos jovens indígenas no sistema educacional. A comunidade indígena segue mobilizada, buscando garantir um ambiente escolar mais respeitoso e inclusivo.
Rádio Yandê: Para iniciarmos a conversa com a, Professora Doutora Évelin Tatiane Terena, poderia nos contar um pouco sobre a trajetória da Comunidade Escolar Indígena Guilhermina da Silva e os desafios enfrentados pelos estudantes indígenas nos dias de hoje?
Professora Doutora Évelin Tatiane Terena: Claro. Nossa comunidade tem uma história que remonta a tempos muito anteriores ao reconhecimento de Anastácio como município. Mas, recentemente, nossos estudantes vêm enfrentando um racismo estrutural que tem se tornado cada vez mais evidente, especialmente no ambiente escolar e durante os jogos escolares. Esses desafios não só limitam as oportunidades iguais, mas também ameaçam a inclusão dos jovens indígenas no sistema de educação e no esporte. É doloroso ver que, enquanto o mundo fala de diversidade, muitos ainda ignoram as barreiras invisíveis que os estudantes indígenas enfrentam todos os dias.
RY: É realmente triste ouvir isso. Qual tem sido o papel do esporte dentro da comunidade para superar essas barreiras?
Drª Évelin Tatiane Terena: O esporte, para nós, sempre foi muito mais do que uma atividade física. Ele é uma extensão da nossa cultura, um espaço de fortalecimento da nossa comunidade. Nos jogos escolares, por exemplo, vemos nossos jovens expressando orgulho de sua cultura, mesmo que enfrentem desafios e preconceitos. Mas, lamentavelmente, eventos como o CAMPEAN – Campeonato Escolar de Anastácio – que deveriam promover integração, acabam sendo palcos de racismo. Nossa esperança é que, com o apoio da comunidade, possamos continuar incentivando nossos jovens a persistirem e não desistirem, acreditando que a resiliência é fundamental para superar o racismo estrutural.
RY: A escola tem sido um suporte para vocês nessa luta?
Drª Évelin Tatiane Terena: Infelizmente, não. Nossa atual administração escolar é liderada por uma diretora não indígena que, até agora, tem mostrado pouca empatia com os desafios dos estudantes indígenas. Ela parece estar mais focada em questões administrativas e financeiras do que em garantir um ambiente acolhedor e respeitoso para nossos jovens. Isso nos deixa em uma posição em que, como professores e membros da comunidade, precisamos agir por conta própria. Temos feito notas de repúdio e trabalhando em conjunto com lideranças locais, porque não podemos aceitar que nossos jovens sejam tratados com desrespeito.
RY: Esse tipo de situação já havia ocorrido antes?
Drª Évelin Tatiane Terena: Sim, e isso é o mais alarmante. No ano passado, nossos alunos enfrentaram episódios semelhantes em competições esportivas. O racismo estrutural contra os estudantes indígenas não é um caso isolado – ele é sistêmico e recorrente, afetando nossas crianças, minando seu direito de se sentirem incluídas e respeitadas no ambiente escolar.
RY: E quais medidas a comunidade está tomando para lidar com esses desafios?
Drª Évelin Tatiane Terena: Estamos intensificando a formação e a sensibilização dos nossos jovens, preparando-os para lidar com situações difíceis. Nossa educação vai além das matérias tradicionais – estamos comprometidos em ajudá-los a entender seus direitos e a ter força para defendê-los, seja na escola ou em qualquer outro espaço. Recentemente, houve uma postagem da escola estadual nas redes sociais afirmando desconhecer o ocorrido. Mas, para nós, isso só prova a falta de comprometimento com o enfrentamento real desse problema.
RY: Então você acredita que ainda é preciso abrir mais o diálogo sobre diversidade cultural no ambiente escolar?
Drª Évelin Tatiane Terena: Sem dúvida. Para avançarmos, precisamos criar espaços para discutir a diversidade cultural de maneira mais abrangente. Isso deveria começar com rodas de conversa, campanhas de conscientização e iniciativas para envolver toda a comunidade educacional. Não estamos falando apenas de respeito aos alunos indígenas, mas de uma transformação no sistema de ensino para que ele seja verdadeiramente inclusivo, valorizando a diversidade e a riqueza cultural de todas as comunidades.
RY: Como a Escola Estadual Indígena Guilherme da Silva promove a integração e a resistência cultural entre seus alunos e professores?
Drª Évelin Tatiane Terena: É importante frisar também que a maioria dos professores que trabalham hoje na Escola Estadual Indígena Guilherme da Silva estudaram nesta escola, têm amigos dentro da instituição e mantêm uma relação de respeito e cooperação. A nossa relação com a Escola do Deputado Carlos Souza Menezes sempre foi de paz e integração. É isso que esperamos dos jogos e das atitudes dos atletas; não podemos permitir que seja diferente. Enfim, continuamos caminhando, resistindo, persistindo e lutando contra os atos que nos afetam, nós, povos originários.
RY: Enfim, qual é o objetivo principal dessa luta professora?
Drª Évelin Tatiane Terena: Nosso objetivo é garantir que nossas crianças indígenas tenham um ambiente escolar que respeite e celebre a diversidade. Não estamos pedindo nada além do que seria justo e necessário para qualquer estudante: um espaço seguro, inclusivo e onde possam se orgulhar de quem são. Queremos que nossos jovens cresçam conscientes de seus direitos e prontos para enfrentar o mundo, sabendo que têm o apoio de sua comunidade e que, juntos, podemos construir um futuro inclusivo.
Notas da Escola Estadual Deputado Carlos Souza Medeiros
Recentemente, a Escola Estadual Deputado Carlos Souza Medeiros, Anastácio (MS) postou duas notas em sua rede social Facebook, afirmando que não tinha conhecimento do ocorrido. No entanto, a ausência de um pedido de desculpas formal e a maneira superficial como a situação foi abordada mostraram a falta de comprometimento da instituição com o enfrentamento desse problema.
Aqui estão os textos completos transcritos das duas imagens postadas na internet:

“ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL – SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO ESCOLA ESTADUAL DEP. CARLOS SOUZA MEDEIROS
Rua: João Teodoreta da Costa, 1397 – Tel.: 3245 0382 – Anastácio / MS, E-mail: eedcsm@sed.ms.gov.br, Anastácio, 25 de Outubro de 2024
A direção colegiada da E. E. Deputado Carlos Souza Medeiros, vem através desta, demonstrar o nosso total repúdio contra atitudes preconceituosas. No momento, a unidade escolar participa dos jogos organizados pela Secretaria Municipal de Esportes e sem que houvesse a comunicação sobre qualquer fato relacionado a atitudes racistas. Fomos pegos de surpresa em uma postagem em rede social envolvendo o nome da escola. Sendo assim, em contato com a organização, fomos informados que ninguém, no momento, tinha reclamado sobre tal atitude, pois se isso tivesse acontecido, teriam tomado providência imediatamente. Sendo assim, mais uma vez, deixamos claro que repudiamos qualquer situação de preconceito e, ainda, fatos isolados não podem representar uma unidade escolar. Desde já, agradecemos.”

“ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL – SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO ESCOLA ESTADUAL DEP. CARLOS SOUZA MEDEIROS
Rua: João Teodoreta da Costa, 1397 – Tel.: 3245 0382 – Anastácio / MS, E-mail: eedcsm@sed.ms.gov.br, Anastácio, 28 de Outubro de 2024
A EE Deputado Carlos Souza Medeiros, vê-se envolvida numa situação que merece esclarecimentos. É fundamental ressaltar que a escola sempre promoveu um ambiente de respeito e inclusão, incentivando a diversidade e o diálogo entre todos. Primeiramente, é importante destacar que as acusações de racismo são sérias e devem ser tratadas com cuidado, sendo os fatos devidamente apurados para que sejam tomadas as medidas cabíveis. A escola preza pela formação de cidadãos críticos e respeitosos, e qualquer ato que contradiga esses princípios não reflete a cultura institucional. A direção”
Leia a matéria completa em: https://radioyande.com/escola-indigena-denuncia-casos-de-racismo-estrutural-indigena-em-campeonato-escolar-de-anastacio-ms
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