var playercloud = "#playerCloud";

O player não pôde ser carregado. Acesse diretamente pelo nosso Instagram: Rádio Yandê.

O player requer que o JavaScript esteja habilitado. Ative o JavaScript no navegador para ouvir a Rádio Yandê.

AZIRA’I: MEMÓRIAS QUE CANTAM, DANÇAM E RESISTEM

Acervo: Dauá Puri

A vida é feita de surpresas; cada dia, uma nova revelação. É Zahy Tentehar quem hoje nos traz essas revelações com a publicação literária “Azira’i”, pela editora Cabogó, em parceria com Duda Rios. Assim que ela esteve no Museu da Cultura Puri, na Aldeia Vertical no Estácio – RJ, e falou da publicação, fiquei atento. Logo que lançaram, fiz a encomenda, que chegou bem rápido.

Assim que abri, vi o prefácio de Ailton Krenak que, com suas palavras de sabedoria, gentileza e profundidade de sentimentos, faz uma reflexão sobre o que é essa literatura indígena contemporânea com “Fábula não Sangra”, exorcizando os estigmas do mercado editorial brasileiro com as reproduções folclóricas de extermínio das culturas indígenas, que sonham em colocá-las num passado e que não existem mais. RELUTAM em rotular a cultura dos povos originários, que é a base da estrutura nacional.

Ele pontua: “Ouvimos uma língua e ficamos tentando acompanhar o movimento dessa fala. Imagina milhares de falas. Milhares delas silenciadas. E nós damos de cara com disposição generosa, até pra ensinar a gramática da língua materna, mostrando como se compõe uma palavra, como se pronuncia”.

“Nós somos convidados, como esses povos são capazes de ser contemporâneos de tudo, e continuam sendo fiéis a si mesmos, sem trair suas memórias.”

“Vocês têm teatro, vocês têm Cinema, vocês têm literatura? … Eu quero ver é quem consegue ficar ESPIRITADO com a arte teatral do ocidente. Nós ganhamos esse presente. NÓS somos espiritados.”

“Zahy está abrindo o caminho para outros que virão, para que também contem a nossa história: a história das nossas mães, das nossas avós, dos nossos pais…”

“Nós vivemos num mundo de tanta falsidade, que mostrar os segredos de nossas famílias é um risco. Tem que ter coração puro, porque é mais fácil você criar uma fábula e mostrar ela em cena. FÁBULA NÃO SANGRA.”

Então, depois dessa lindeza de descrição do Mestre-sala das palavras, mergulhei na leitura do livro. Depois de ter assistido ao espetáculo da peça “Azira’i”, encenada por Zahy com sua voz encantadora, pude ver o quanto ela tinha crescido como ser e profissional. Tive a oportunidade de conhecê-la quando chegou na Aldeia Maracanã, onde moramos durante anos e fazíamos o encontro para contar nossas histórias. Zahy foi a primeira professora num curso de língua Tupy no espaço; depois, ela foi estudar teatro no Tablado, fotografia, modelo, e nas noites da Aldeia Vertical cantávamos, sonhávamos e gravávamos nossas músicas. Ela fez minha primeira bela foto, que tenho até hoje.

O tempo passou e, quando entrei no teatro e vi sua performance, viajei no tempo de sua beleza. E gritei: “Agiu friamente, né, Zay?” Bem-te-vi, gorgeios de pássaros, banhos de rios no Maranhão, quintais com cachorros, fogueira, histórias boas e tristes, com luz e escuridão, noite e dia, céu azul, sol escaldante – a saga da família que tem que deixar sua terra, sua Aldeia para sobreviver. Família grande, lutadora, vencendo as intempéries do tempo, vai em frente.

Acervo: Dauá Puri

As histórias cantadas na língua Ze’engue te ou das músicas lindas, Zahy canta: “Tem gosto de lua na minha boca, cratera de lua na minha mão, tem brilho de Lua na água dos olhos, tem lua rodando minha inspiração…” – só uma pitadinha para vocês lerem no livro.

KWARAHỲ abre uma carta e lê para sua mãe, contando sua história e de sua mãe. As ilustrações foram feitas com esmero por Mari Taboada. Precisamos também lembrar do trabalho de direção de Denise Stutz. Peça o seu livro e conheça um pouco do Braz engue té “Azira’i” – Um musical de memórias. Agradeço a coragem e o belo trabalho, tsate ho Pury Shambona!

Dauá Puri é colunista da Rádio Yandê e ativista cultural. Suas colunas abordam arte, cultura e resistência dos povos originários.

Tags: #LiteraturaIndígena, #Arte, #Cultura, #Resistência, #RadioYande

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Pular para o conteúdo