
A Comunidades Indígenas en Liderazgo (CIELO) é uma organização sem fins lucrativos liderada por mulheres indígenas, que trabalha em conjunto com famílias indígenas migrantes, principalmente do sul do México, e que agora vivem na Califórnia, Estados Unidos.
Fundada em 2016 pelas mulheres zapotecas Odilia Romero e Janet Martínez (mãe e filha), a CIELO se dedica a combater o racismo contra os povos indígenas.
O contexto da migração indígena mexicana
Na década de 1970, a marginalização das comunidades indígenas pelo Estado mexicano resultou em uma migração massiva de indígenas para os Estados Unidos, processo que durou até o final dos anos 1990. A crescente demanda por mão de obra no Vale Central da Califórnia atraiu trabalhadores agrícolas, que encontraram emprego na colheita de morangos, alface e uvas, bem como em restaurantes e trabalhos domésticos.
Odilia Romero Hernández nasceu em 1971 em San Bartolomé Zoogocho, uma comunidade zapoteca localizada na Sierra Norte de Oaxaca, no sul do México. Aos 10 anos, Odilia migrou para Los Angeles, Califórnia, onde enfrentou grandes desafios devido às barreiras linguísticas e culturais, pois sua língua materna era o zapoteco e, ao chegar aos EUA, não falava espanhol nem inglês.
Em uma entrevista à revista Vogue, Odilia Romero comentou:
“Naquele momento, eu era uma criança que vivia e lidava com o trauma de ter sido expulsa de minha casa. Mas, além de me adaptar a um novo país, muitas pessoas da minha comunidade começaram a morrer [por overdose de drogas]. As pessoas não conseguiam se comunicar com a polícia. Não sabiam o que estava matando seus entes queridos e vizinhos. Houve muitas interações com a polícia, mas nunca pudemos ter uma conversa real com eles, porque eles sequer sabiam da nossa existência. Todas essas prisões, todos esses encontros com a polícia foram muito traumáticos. As pessoas morriam ou eram assassinadas, e as famílias não conseguiam que ninguém investigasse”.
Essas experiências a motivaram a lutar pelos direitos dos indígenas migrantes. Ela se tornou intérprete de zapoteco, espanhol e inglês, trabalhando para garantir que os indígenas tivessem acesso a serviços essenciais em sua língua materna. Ao reconhecer a falta de intérpretes treinados em línguas indígenas em instituições como tribunais, hospitais e delegacias, Odilia cofundou, em 2016, a Comunidades Indígenas en Liderazgo (CIELO).

Impacto e reconhecimento
Odilia recebeu prêmios e deu palestras em diversas universidades nos Estados Unidos. Ela também publicou textos sobre os desafios da organização comunitária indígena, o fortalecimento da liderança feminina e a formação de novas gerações. Sua trajetória foi destaque em veículos como Los Angeles Times e The New York Times.
Em um evento chamado “Un Mezcal Con”, um bate-papo público organizado por jovens tradutores indígenas na Cidade de Oaxaca, Odilia reconheceu o trabalho dos primeiros migrantes indígenas. Quando chegou à Califórnia em 1981, ainda criança, já existiam organizações formadas pelos povos do sul do México.
Ela também destacou a importância das contribuições econômicas dos migrantes para suas comunidades de origem, que ajudam a financiar infraestrutura, manter tradições culturais e garantir cuidados de saúde para os idosos.
Em 2023, o governo mexicano estimou que 37 milhões de mexicanos vivem nos Estados Unidos. No entanto, determinar o número exato de indígenas mexicanos e seus descendentes nos EUA é um desafio, devido à falta de dados específicos nos censos e pesquisas populacionais.
Atualmente, alguns filhos de migrantes indígenas conseguem acessar a educação universitária nos Estados Unidos, o que tem impactos positivos para suas famílias e comunidades de origem.
Principais programas da CIELO
A organização desenvolve diversos programas para fortalecer as comunidades indígenas nos Estados Unidos. Entre os destaques estão:
- Revitalização das línguas indígenas:
A CIELO cria espaços de participação para as novas gerações, promovendo o ensino e o uso das línguas indígenas através de iniciativas como “Tejiendo Palabras y Rimas”, que celebra esses idiomas por meio da música. - Conferências de literatura indígena:
A CIELO organizou a primeira conferência de literatura indígena em Los Angeles, um evento feito por e para comunidades indígenas, incentivando a valorização da literatura nas línguas originárias. - Treinamento em consciência cultural:
A organização colabora com o Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD) para criar um diálogo e conscientizar os policiais sobre as comunidades indígenas que vivem na cidade. Oficiais participam de treinamentos para entender melhor as realidades e desafios enfrentados pelos indígenas migrantes.
Para saber mais sobre a CIELO e seus programas, acesse:
🌐 Site oficialhttps://mycielo.org/
📷 Instagram instagram.com/mycielo_org
Imagens: Rede Socias
Pablo Pérez Ángeles é um jornalista da etnia zapoteca. Escreve sobre cultura no México e no Brasil.
Correspondente da Rádio Yandê para o sul do México. Instagram: @pablo_zapoteca
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