Nos últimos anos, desde que usei a minha primeira IA o MidJourney apresentado para mim e deu acesso a um servidor no Discord de um grupo programadores e artistas do Vale do Silício em San Francisco, EUA, por uma amiga não indigena das arte visuais, eu tenho acompanhado de perto o avanço da inteligência artificial e percebi algo fascinante e preocupante: estamos ficando reféns de poucas empresas que controlam o acesso à tecnologia.
Agora, o que isso significa para os povos indígenas? A disputa entre IAs proprietárias e IAs livres não é só uma questão técnica ou de mercado, mas também um embate entre controle corporativo e autonomia digital, entre colonialismo digital e soberania tecnológica indígena.
A tecnologia sempre chegou até nós filtrada pelos interesses de outros. E se continuarmos dependendo exclusivamente de IAs fechadas, ficaremos sujeitos a algoritmos que não entendem nossa realidade, que reforçam estereótipos e nos mantêm invisíveis.
Mas e as IAs livres? Elas trazem oportunidades, mas também desafios. Hoje, quero mostrar a vocês o impacto dessa disputa sob a ótica da Etnomídia Indígena e o que ela representa para o futuro da inteligência artificial no contexto dos povos indígenas, lugar onde estou.
O Que São as IAs Livres? E O Que São as IAs Proprietárias?
Para entender essa discussão, precisamos definir os dois lados dessa batalha:
- IAs Proprietárias são aquelas pertencentes a grandes empresas como OpenAI, Google e Microsoft. Elas possuem código fechado, controle total sobre seus dados e definem quem pode acessar e por quanto.
- IAs Livres (open-source AI) são de código aberto, o que significa que qualquer um pode estudá-las, modificá-las e usá-las de forma independente, sem precisar pagar ou seguir as regras de uma corporação.
No contexto da Etnomídia Indígena, isso levanta uma pergunta essencial: de quem é a voz que está sendo amplificada por essas inteligências artificiais?
O Lado Positivo das IAs Proprietárias para Povos Indígenas
As IAs proprietárias possuem grandes investimentos e tecnologias avançadas, o que pode trazer alguns benefícios:
✔ Acesso facilitado – Ferramentas como ChatGPT e Gemini são fáceis de usar, permitindo que indígenas acessem conhecimento global rapidamente.
✔ Tradução e inclusão digital – Algumas dessas IAs já começaram a suportar línguas indígenas, o que pode ajudar na preservação linguística.
✔ Maior estabilidade e suporte – Por serem mantidas por grandes empresas, elas costumam ter menos bugs e falhas técnicas.
Mas esses pontos positivos vêm com um preço alto…
O Lado Perigoso das IAs Proprietárias para Povos Indígenas
🔴 Falta de Representatividade – IAs corporativas são treinadas com dados ocidentais e urbanos. Elas não conhecem a realidade indígena e reproduzem narrativas coloniais, muitas vezes nos retratando de forma distorcida.
🔴 Dependência Tecnológica – Se toda a IA for centralizada em poucas empresas, os povos indígenas continuarão sem autonomia tecnológica, sempre precisando de terceiros para acessar conhecimento.
🔴 Exploração de Dados – As big techs lucram com nossos dados sem nos incluir na cadeia de valor. O que garante que nossas culturas e histórias não estejam sendo exploradas sem nosso consentimento?
O Lado Positivo das IAs Livres para Povos Indígenas
Se as IAs proprietárias representam controle e colonialismo digital, as IAs livres representam autonomia e soberania digital. Aqui está o que elas podem oferecer aos povos indígenas:
✔ Criação de Nossas Próprias IAs – Com código aberto, podemos treinar modelos que reconhecem e valorizam nossas línguas, conhecimentos e histórias.
✔ Soberania de Dados – Podemos definir como nossos dados são usados em nossos servidores, sem intermediários lucrando sobre eles.
✔ Tecnologia Como Ferramenta de Resistência – A Etnomídia Indígena pode usar IA livre para amplificar nossas vozes sem censura ou filtros externos.
✔ Educação e Capacitação Digital – Com acesso aberto, podemos formar programadores indígenas para desenvolver nossas próprias soluções tecnológicas.
Os Desafios das IAs Livres Para Povos Indígenas
🔴 Acesso à Infraestrutura – Treinar uma IA do zero exige poder computacional, algo que muitos territórios indígenas ainda não têm.
🔴 Curva de Aprendizado – Diferente das IAs fechadas que são prontas para uso, as IAs livres exigem conhecimento técnico para implementação.
🔴 Sustentabilidade do Modelo – Manter uma IA livre funcionando requer uma comunidade ativa. Quem financiará e manterá esses projetos no longo prazo?
Esses desafios são grandes, mas não impossíveis. E é por isso que precisamos começar agora a construir um caminho para uma IA indígena, livre e descentralizada.
O Que Isso Significa Para o então Futuro?
A inteligência artificial já está transformando o mundo, e nós, povos indígenas, precisamos decidir agora como queremos fazer parte dessa revolução, eu já faço parte.
Se continuarmos apenas como consumidores de IAs proprietárias, seremos sempre dependentes, vulneráveis à distorção de nossas culturas e histórias.
Se investirmos em IAs livres, temos a chance de moldar essa tecnologia a partir da nossa própria cosmovisão, garantindo que ela sirva às nossas comunidades, e não ao mercado corporativo.
Sobre a Imagem ilustrativa
Representando a luta entre colonialismo digital e soberania tecnológica indígena.
De um lado, a IA corporativa, gigante e imponente, representando o controle e a extração do conhecimento indígena.
Do outro lado, a IA indígena, conectada à terra e à tecnologia, irradiando energia ancestral e integrada a uma rede digital descentralizada.
Ao fundo, a fusão entre uma cidade futurista e uma paisagem indígena, simbolizando a interseção entre o mundo moderno e a cultura ancestral.
Sobre o autor: Anápuàka M. Tupinambá Hãhãhãe | é comunicador, empreendedor e especialista em Etnomídia Indígena, fundador da Rádio Yandê e do Yby Festival. Atua na interseção entre tecnologia, cultura e soberania digital indígena, promovendo inovação com protagonismo dos povos originários.
Eu uso IA como uma ferramenta acessível para ditar textos por voz, corrigir e formatar conteúdos, além de gerar imagens para ilustrar informações. Isso me permite superar barreiras da dislexia e potencializar a comunicação indígena com autonomia e inovação.
Como uma pessoa disléxica, vejo as IAs como ferramentas poderosas que possibilitam realizar tudo o que faz hoje, impulsionando a soberania digital indígena com inovação e protagonismo dos povos originários.
Minha Visão: O futuro da IA para nós povos indígenas precisa ser livre, comunitário e soberano. Mas para isso, precisamos ocupar o espaço da tecnologia e criar nossas próprias soluções com protagonismo e autonomia, sem atravessadores e tuteladores.
A pergunta que eu te faço é: vamos apenas consumir IA, ou vamos criar a nossa própria?
Me conta nos comentários: você acredita que as IAs livres são o melhor caminho para os povos indígenas?
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-“Seja um bom ancestral hoje”| Instagram @anapuakatupinamba
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