Argentina | O que começou como um protesto pacífico para exigir respostas urgentes do governo de Gildo Insfrán terminou em uma feroz repressão policial que deixou um saldo gravíssimo: o cacique da comunidade Pilagá, Delfín García, encontra-se em estado crítico, 10 policiais resultaram feridos — dois deles com lesões graves — e dezenas de indígenas foram espancados, baleados e detidos após uma verdadeira batalha campal à beira da Rota Provincial N°28, na jurisdição de Las Lomitas.
Denúncias de Subornos com Mercadorias do PJ
Após a repressão, começaram a circular vídeos mostrando o atendimento aos feridos, principalmente por impactos de balas de borracha. Em outro testemunho comovente, Juana González, presidente da comunidade indígena de Campo del Cielo, denunciou que, após serem baleados, a polícia tentou acalmar a situação oferecendo mercadorias trazidas da sede do Partido Justicialista de Las Lomitas, transportadas em caminhonetes policiais.
“Estão loucos, acham que com mercadorias vão conter a água. Há anos que não nos ouvem. Aqui há uma única verdade: Gildo Insfrán investe em um hipódromo, mas não em manter as comportas do Bañado, que hoje não podem ser abertas”, sentenciou González.
Um vídeo mostra outro integrante da comunidade Pilagá com cartuchos na mão e lesões visíveis pelos projéteis, que também interpelou as autoridades:
“Se dizem que a comporta não interfere em nada, por que então não a abrem?”
A Versão Oficial e o Relato dos Fatos
O relatório policial afirma que a operação foi realizada para evitar o bloqueio total da estrada e garantir a livre circulação. Segundo essa versão, por volta das 13h40, os manifestantes atacaram com pedras e entulhos, o que motivou a intervenção do DDR (Destacamento de Desdobramento Rápido), que utilizou balas de borracha para dispersar o protesto.
Em meio ao caos, um indígena teria tomado uma caminhonete do Centro Integrador Comunitário de Campo del Cielo — identificada no relatório como uma ambulância — e atropelado três policiais, causando-lhes graves lesões. Um dos agentes apresenta fratura de maxilar e outro fratura de quadril, sendo encaminhados ao Hospital de Alta Complexidade na capital provincial.
Ainda assim, vários vídeos divulgados pelos próprios indígenas mostram uma resposta policial desproporcional, com tiros disparados a curta distância, feridos caídos no chão e uma operação repressiva com presença massiva de forças armadas.
Um Conflito que se Agrava
Nos últimos dias, comunidades indígenas e crioulas do oeste de Formosa vêm alertando sobre o transbordamento do rio Pilcomayo e o fechamento deliberado das comportas do sistema hidrovial. A água ficou retida sem possibilidade de escoamento, resultando em um colapso ecológico e humanitário.
Por outro lado, o governo provincial assegura que a comporta “não interfere no comportamento da água”. No entanto, a reivindicação das comunidades é clara: se não interfere, por que não a abrem?
O ocorrido em Campo del Cielo evidencia mais uma vez o abandono estrutural das comunidades do interior de Formosa, a falta de diálogo e a sistemática criminalização das reivindicações sociais.
A ferida continua aberta, e a água continua subindo.