
Por Redação Rádio Yandê
O Censo Demográfico 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trouxe um retrato inédito e impressionante da diversidade dos povos originários no Brasil. Os números confirmam o que os próprios povos indígenas já sabiam: o país é um verdadeiro mosaico cultural, com um aumento significativo na população e na variedade de etnias e línguas.
A principal manchete é o salto no número de grupos identificados: o Brasil conta agora com 391 etnias, povos ou grupos indígenas, um aumento notável em relação às 305 registradas no Censo de 2010. Além disso, foram identificadas 295 línguas indígenas faladas por pessoas a partir de dois anos de idade.
A Força da Autoafirmação: Mais Povos e Mais Pessoas
O total da população indígena no Brasil chegou a 1.694.836 pessoas em 2022, quase o dobro das 896.917 registradas em 2010. Este crescimento expressivo não se deve apenas ao aumento natural, mas também a um forte movimento de autoafirmação étnica.
Marta Antunes, gerente de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, explica que muitos indígenas que antes não declaravam seu pertencimento étnico específico, por medo do racismo ou discriminação, agora se sentem mais seguros para fazê-lo.
“Nos últimos anos, fruto também do próprio Censo, isso passa a ser valorizado. Declarar para o IBGE o seu pertencimento àquela etnia passa a ser valorizado. Depois de anos de ocultação para lidar com o racismo, principalmente no contexto urbano, se reúnem condições favoráveis para a declaração do pertencimento étnico.”
As Etnias Mais Numerosas:
| Posição | Etnia | População (2022) |
| 1º | Tikúna | 74.061 |
| 2º | Kokama | 64.327 |
| 3º | Makuxí | 53.446 |
Um destaque é o crescimento da etnia Kokama, que se tornou a segunda mais populosa. Segundo o IBGE, isso se deve à melhoria na captação de dados em áreas urbanas e ao fortalecimento da organização comunitária e da reafirmação identitária desse povo.

Diversidade Linguística: O Desafio de Manter a Língua Viva
A riqueza cultural do Brasil também se manifesta nas 295 línguas faladas. As três línguas com maior número de falantes são: Tikúna (51.978), Guarani Kaiowá (38.658) e Guajajara (29.212).
Embora o número absoluto de falantes de línguas indígenas tenha aumentado (de 293.853 para 433.980), o percentual em relação ao total da população indígena de cinco anos ou mais diminuiu de 37,35% para 28,51%.

O avanço do português é um fator notado, especialmente fora das Terras Indígenas (TIs). Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais do IBGE, aponta que a necessidade de usar o português para estudo e trabalho, e a ausência de políticas educacionais específicas para o ensino em línguas indígenas, contribuem para esse cenário.
No entanto, dentro das Terras Indígenas, o uso da língua materna se fortaleceu, passando de 57,35% para 63,22% dos indígenas. Isso reflete o esforço dos povos para manter suas tradições vivas, por meio de ações de revitalização e fomento à educação bilíngue.
Onde a Diversidade se Encontra: A Urbanização Indígena

Os dados mostram que a diversidade étnica não está restrita à Amazônia. O estado de São Paulo lidera o ranking com o maior número de etnias (271), seguido por Amazonas (259) e Bahia (233).
Cidades como São Paulo (194 etnias), Manaus (186) e Rio de Janeiro (176) se destacam como grandes centros de diversidade. Isso se deve ao intenso processo de urbanização indígena: a população indígena fora de Terras Indígenas em áreas urbanas cresceu de 324.834 em 2010 para 844.760 em 2022.
Os Desafios da Cidadania e da Infraestrutura
Apesar do crescimento e da autoafirmação, o Censo 2022 também lança luz sobre graves problemas sociais enfrentados pelos povos indígenas.
1. Falta de Registro de Nascimento: O percentual de crianças indígenas de até cinco anos sem registro de nascimento é de 5,42%, muito superior ao da população geral (0,51%). Entre os Yanomami/Yanomán, 65,54% das crianças dessa faixa etária não têm registro, o que significa mais de 3 mil crianças sem acesso à cidadania básica.
2. Precariedade no Saneamento Básico: Os dados de saneamento são alarmantes e mostram a falta de políticas públicas de infraestrutura:
| Etnia | Sem Água Encanada (%) | Sem Esgotamento Adequado (%) | Sem Coleta de Lixo (%) |
| Tikúna | 74,21% | 92,82% | 76,59% |
| Guarani Kaiowá | 70,77% | 82,05% | 80,53% |
| Guajajara | 73,78% | 91,41% | 85,66% |
| Yanomami/Yanomán | 93,07% | Não detalhado | Não detalhado |
Para os Tikúna, a etnia mais populosa, mais de 92% dos moradores não têm esgotamento sanitário adequado, e mais de 74% não têm água encanada. Estes números expõem a urgência de investimentos em saúde e infraestrutura nas Terras Indígenas.
Um Retrato de Luta e Resistência
O Censo 2022 oferece um panorama completo da população indígena brasileira: uma população em crescimento, com uma diversidade étnica e linguística que se reafirma, inclusive nas cidades.
No entanto, os dados de saneamento e registro civil são um alerta para a dívida histórica do Estado brasileiro com esses povos. A Rádio Yandê continuará acompanhando e dando voz às lutas por direitos, território e pela garantia de uma vida digna para os povos originários, como mostram os dados do IBGE.
Dados extraídos do Censo Demográfico 2022: Etnias e línguas indígenas – Principais características sociodemográficas – Resultados do universo, divulgado pelo IBGE em 24/10/2025.
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