
Encontro entre o arquiteto vencedor do Prêmio Pritzker e o conselheiro indígena Anápuàka Tupinambá redefine as bases da Biblioteca do Saber e inaugura um novo capítulo na arquitetura cultural brasileira.
O Rio de Janeiro vive um momento raro: a criação de um equipamento cultural com ambição simbólica, urbanística e social, a Biblioteca dos Saberes, um dos projetos mais aguardados da década, concebido pelo renomado arquiteto Diébédo Francis Kéré, nascido em Burkina Faso, cidadão carioca por adoção e primeiro africano a receber o Prêmio Pritzker, o maior reconhecimento da arquitetura mundial.
Mas um capítulo decisivo dessa história não nasce apenas nos desenhos técnicos e nos modelos arquitetônicos do projeto. Ele emerge da intervenção estratégica do comunicador, produtor e líder indígena Anápuàka Muniz Tupinambá Hãhãhãe, Conselheiro Municipal de Política Cultural na cadeira de Identidade Indígena, que conseguiu incluir na própria concepção do edifício uma representação indígena estruturante, um marco inédito na história da cidade.
O encontro decisivo que mudou o projeto

Em 26 de maio de 2025, durante uma visita institucional organizada pela Secretaria Municipal de Cultura ao Museu Nacional/UFRJ, Francis Kéré teve contato direto com o Manto Tupinambá, peça de imensa relevância espiritual, histórica e estética para o povo Tupinambá. Ali, ao lado de Iakurutu Potiguara como tradutora e representação indigena, Anápuàka abriu um diálogo profundo com o arquiteto, dentro do espaço onde está sendo mantido o Manto Tupinambá, compartilhando processos de trama do manto, cosmogonia, cosmologias, memoriâncias, histórias originárias e formas de compreender o território e a origem real da cidade do Rio de Janeiro. Foi nesse contexto que apresentou uma proposta inovadora: a inclusão de uma representação indígena capaz de narrar a história do Rio de Janeiro desde sua criação até os dias atuais, sob a ótica dos povos originários.
Essa proposta envolvia o que Anápuàka chamou de “passo da memoriância”: uma metodologia de reinscrição da memória indígena na arquitetura urbana contemporânea, garantindo que o território carioca, historicamente indígena, fosse reconhecido dentro do mais emblemático equipamento cultural do século XXI da cidade.
O diálogo avançou. Houve troca, escuta, reconhecimento.
A proposta foi acolhida.

E, assim, a representação indígena passou a integrar oficialmente o projeto da Biblioteca dos Saberes, cuja torre de quatro andares simbolizará simultaneamente a Árvore da Vida e o Manto Tupinambá, entrelaçando referências africanas, tupinambás e cariocas em um único gesto arquitetônico.
“O Rio de Janeiro não pode escrever seu futuro sem reconhecer quem esta aqui desde antes do nome Rio de Janeiro existir. Quando Francis Kéré acolheu a presença e história indígena, Tupinambá, como parte estruturante do projeto, ele não apenas fez arquitetura, ele fez história. Ser indígena no Rio é participar da construção da cidade em todas as suas camadas: memória, cultura, política e futuro.”
— Anápuàka Muniz Tupinambá Hãhãhãe
Quem é Francis Kéré, e por que essa articulação é histórica

Com uma trajetória marcada pela arquitetura social, comunitária e sustentável, Francis Kéré é um dos arquitetos mais admirados do mundo.
- Nascido em 1965, em Gando, Burkina Faso, cresceu em uma comunidade sem acesso à escola, o que moldou seu compromisso com a educação.
- Formou-se em Berlim, onde fundou o escritório Kéré Architecture, referência internacional.
- Ganhou o Prêmio Pritzker em 2022, tornando-se o primeiro africano a receber a honraria.
- É reconhecido pelo uso de materiais naturais, ventilação cruzada, inovação climática e participação comunitária.
- Criou obras emblemáticas como a Escola Primária de Gando, o Serpentine Pavilion (Londres) e a Opera Village Africa.
Sua filosofia se baseia em construir com as pessoas, para as pessoas e a partir dos saberes locais. Por isso, a conexão com Anápuàka foi imediata, profunda e coerente.
Biblioteca dos Saberes: um marco urbano, cultural e político
A Biblioteca dos Saberes será construída na região portuária do Rio de Janeiro, território marcado pela memória indígena e afro-brasileira, e ocupará cerca de 40 mil m². O projeto inclui:
- salas de leitura,
- acervos,
- áreas expositivas,
- auditório,
- espaços de convivência,
- terraços,
- e uma torre simbólica inspirada em árvores comunitárias africanas e nas cosmologias originárias brasileiras.
O edifício dialoga com:
- a Árvore da Vida,
- os biomas tropicais,
- as tradições de encontro comunitário,
- o Cais do Valongo,
- a Pequena África,
- a Praça Onze,
- e, agora, com a memoriância indígena apresentada por Anápuàka.
A integração da representação indígena transforma a Biblioteca dos Saberes em um espaço de futuro, onde memória, tecnologia, natureza e espiritualidade formam uma narrativa contínua.

A relevância política e cultural do gesto
A articulação realizada por Anápuàka consolidou uma ponte inédita entre:
- Secretaria Municipal de Cultura,
- Conselho Municipal de Política Cultural,
- arquitetura global,
- história indígena,
- e políticas públicas contemporâneas.
Essa articulação garante:
✔ Impacto na formulação de políticas de memória, história e cultura.
✔ Reconhecimento institucional da presença indígena na construção da cidade.
✔ Novas oportunidades de ocupação de espaços decisórios por lideranças originárias.
✔ Fortalecimento da Etnomídia Indígena como campo estratégico da arquitetura, museologia e gestão cultural.
✔ Mudança profunda na forma como o Rio narra sua própria história.
Um legado para o Rio de Janeiro, e para a arquitetura mundial
A partir deste episódio, o nome de Anápuàka Muniz Tupinambá Hãhãhãe se inscreve definitivamente na história da cidade como protagonista de um dos mais simbólicos projetos culturais do século XXI.
Sua contribuição é:
- estruturante,
- transformadora,
- e indispensável.
A presença indígena no Rio de Janeiro não é passado: é direção, fundamento e projeto de futuro.
A inclusão da memória originária no projeto de Francis Kéré representa um avanço histórico para a cidade, e um legado definitivo indigena com a mediação étnica e política de Anápuàka Tupinambá para as próximas gerações.
Redação Rádio Yandê
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