Nayara Ribeiro e Hemily Marinho, as professoras indígenas
Hemily Marinho e Nayara Ribeiro são da geração de jovens indígenas que saíram de suas comunidades, passaram pela universidade e voltaram para praticar o que aprenderam em sala de aula.
São profissionais das novas gerações que tentam sair do modo de aprendizado a que o educador brasileiro Paulo Freire chamou de educação bancária, onde o professor impõe as informação aos alunos que servem apenas como depósitos de conhecimento dos quais não tiveram participação de sua formulação.
No jornal Uruma e no programa Iawara, os alunos são protagonistas do que aprendem. Neles, mostram sua forma de falar, de ver e analisar o mundo ao redor e, assim, desenvolvem seu poder de expressão, de argumentação, em um processo onde o aluno é o centro e o ator principal do processo de aprendizagem, como descreveu o psicólogo suíço, Jean Piaget, nos anos de 1920, pai do construtivismo.
As duas professoras travam uma batalha diária contra a falta de perspectiva da maioria da juventude que vive no interior do estado, em particular nas áreas indígenas. Tentam criar condições para que as crianças passem a enxergar e raciocinar o mundo que lhes rodeia. E, ao mesmo tempo que usam as tecnologias disponíveis, buscam conhecer e praticar a cultura de suas etnias que vêm se perdendo com o passar do tempo e o abandono de práticas antigas, como o aprendizado oral.
Vim me entender como mulher indígena na universidade, quando fui instigada a buscar minhas raízes, que estavam ali, bem na minha frente. Hoje, entendo minha missão de professora indígena como um presente que me foi dado, por aqueles que vieram antes de mim, que resistiram, que lutaram e guardaram nossas memórias, para que hoje eu pudesse por meio da educação escolar indígena fortalecer nossa cultura, declara a professora Hemily.
A reportagem do BNC Amazonas visitou a comunidade no último dia 3 de novembro. Com o período de seca, chegar o lugar requer uma boa caminhada para subir as escadas de acesso, pois a comunidade fica nas terras altas dessa região do rio Solimões. O dia estava com céu encoberto, mas o sol continuava forte. Uma tarde ventilada convidava para uma seção de aula embaixo das sombras, com todos sentados na grama.
Lecionar ao ar livre abre as portas da imaginação da criançada, e nos permite inovar a partir do que já temos: florestas, crianças e mentes férteis, diz a professora Hemily em um comentário impresso no jornal Uruma.
Sua colega, professora Nayara Ribeiro, segue o mesmo caminho de incentivar seus alunos a criarem conteúdo saídos de suas “mentes férteis”. A criançada mostra empolgação e criatividade.
Como professora indígena, me preocupo em dar uma educação de qualidade para nossas crianças, para que elas se tornem autônomas, curiosas e inteligentes, e saibam ocupar o lugar que é nosso dentro da sociedade, e assim nós nos fortalecemos como um coletivo, afirma Nayara.