O evento é ocasião para evocar frustrações e esperar outras relações entre “brancos” e indígenas. O lançamento virtual da exposição, em 23 de abril, fora já muito impressionante para um não-indígena. Com um preâmbulo cerimonial bastante longo, “palavras de agradecimento” foram expressas diretamente por anciãos iroqueses para honrar “as forças que nos dão vida e que assim asseguram nosso futuro”. A terra, os peixes, as raízes, os insetos, as plantas, as frutas, as árvores, o sol etc. Uma cerimônia fundamentada sobre o amor à natureza e à vida.
A BACA 2020 é portanto marcada pelo reconhecimento acerca dos recursos da vida sobre a Terra e da transmissão de saberes, pedra angular da sobrevivência das Primeiras Nações. São abordadas relações intergeracionais, a importância da memória e dos ancestrais, e os laços com nosso ambiente. Os temas mais atuais possíveis.
Cerca de vinte artistas foram convidados a sugerir obras criadas por parentes ou amigos, para que a BACA ofereça, mais que obras de artistas consagrados, criações de artistas desconhecidos que jamais expuseram em Quebec, tais como Lucas Hale (com miçangas sobre skate), Kay Meyer, Corinna Wollf, Graham Paradis, Sharon Rose Kootenay ou ainda Emma Hassencahl-Perley.
Esta última criou uma roupa de sinos como aquelas utilizadas nos pow-wow. Ela é feita de retalhos da Lei sobre os índios, um velho documento federal que regula ainda hoje a vida dos indígenas e que lhes frustra profundamente. Este vestido encontra um eco atual porque, segundo David Garneau, os vestidos de sinos surgiram pelo Canadá à época da pandemia da gripe espanhola, em 1919.
A exposição inclui tanto desenhos, pinturas, esculturas, cerâmicas e obras de pérolas, de peles ou de tecidos como fotografias, instalações e vídeos. Certas obras são menos surpreendentes que outras, enquanto umas seguem o caminho das tradições artísticas indígenas, outras são resolutamente modernas. Por exemplo, as impressões digitais de Jon Corbet (um artista de origem Cree, Métis e Saulteaux) realizadas a partir de um programa de computador que lhe permitiu produzir retratos "perolados", tirados de fotos de membros de sua família. Muitos exemplos feitos com essa técnica particular estão expostos na galeria Art Mûr.