Fotos: Samuel Wanderley - Divugação
Na última sexta feira,03/05, foi comemorado o dia do Pau Brasil, cujo nome está estreitamente relacionado ao de nosso país, e que foi por muitos anos utilizada pelos europeus como fonte de pigmento.
Reconhecendo a importância simbólica desta data, a professora Luzineth Pataxó da Escola Estadual da Aldeia Indígena Caramuru, visitou com os alunos do terceiro ano a área de reflorestamento do Projeto Kaapora e a APA Kaapora. O Projeto Kaapora é um projeto da comunidade Pataxó Hã hã hãe, e foi criado por iniciativa da cineasta, jornalista e produtora Yawar Tupinambá, cujo nome de registro é Olinda Muniz Wanderley, juntamente com seu esposo Samuel Wanderley que é antropólogo. É a primeira APA indígena criada por uma mulher indígena.Recentemente a comunidade Pataxó Hã hã hãe decretou como Área de Proteção Ambiental (APA), parte da área do projeto Kaapora, foi redigido um decreto estabelecendo limites, condições de uso e ordenamento do espaço, determinando a indígena Yawar, como sua gestora, dando a ela a obrigação de fazer valer a vontade da comunidade. O documento foi assinado por Caciques e anciões indígenas no último dia 19 de abril.
A Ação foi parte das atividades de aula da escola indígena, que providenciou o transporte dos alunos. Foi realizada uma caminhada pela área do projeto com a finalidade de aproveitar o momento para aula de campo sobre questões de ecologia e preservação ambiental.
Do Pau Brasil se extrai uma tintura vermelha, e desta cor saiu o nome popular da planta, “Brasil”, em referência à sua coloração se assemelhar à brasas. O Pau-Brasil, em razão de sua exploração comercial em séculos anteriores e da destruição acelerada do bioma da Mata Atlântica entrou em 2004 para a lista das espécies ameaçadas de extinção. Na língua Tupi é chamado de ibirapitanga, bem diferente da palavra de origem estrangeira que o colonizador batizou.
Os alunos tiveram a oportunidade de observar, na visita dirigida, os aspectos que foram sendo
discutidos em relação à ecologia local, ouviram palestra sobre a importância da preservação para sua aldeia, e viram de perto os vestígios das derrubadas ilegais de madeira que ocorriam dentro da área da APA, antes de sua retomada pelos indígenas.
No retorno à sede do projeto, tiveram a oportunidade de plantar uma muda de Pau-Brasil, como comemoração ao dia desta árvore símbolo nacional e estreitamente ligada à história dos povos indígenas litorâneos, e que também nome do município, onde se localiza parte da Reserva Indígena, e especificamente a APA Kaapora.
A criação do Projeto Kaapora, se deu para atender às demandas da comunidade Pataxó Hãhãhãe, que retomou seu território para também resgatar a natureza destruída pelos latifundiários. Yawar comentou que que estudou jornalismo em Salvador, e retornou para sua aldeia após a conclusão do curso para apoiar o desenvolvimento de seu povo, e que agora é hora de lutar pela recuperação ambiental do território indígena, tendo sido este um dos discursos mais fortes da comunidade pela reconquista do território. Questionado à respeito desta decisão de viver na Terra Indígena e seu envolvimento neste projeto, Samuel nos responde que “foi necessário para cumprir com uma promessa feita a muitos anos de que apoiaria a permanência de sua esposa na Terra Indígena”, e que é um objetivo de vida para ele ajudar a fazer um mundo melhor para as futuras gerações. Também que sempre viu nos Pataxó Hãhãhãe o desejo de ver seu território restaurado, as matas crescendo novamente, os rios voltando a ter a água que antes tinham, muitos já secos pelo desmatamento.
“Em 2002, quando iniciei os trabalhos com a comunidade, já encontrei algumas iniciativas conservacionistas dos próprios indígenas, e como bom exemplo cito uma mata que cresce no Caramuru, do outro lado da rodovia, e que é constituída de muitas árvores de Jacarandá da Bahia. Lembro do encanto de Olympio Serra por esta matinha de jacarandá que estava sendo preservada pelos indígenas, Olympio foi coordenador do projeto de gestão etnoambiental pelo qual vim trabalhar nesta Terra Indígena em 2002 .” Olympio Serra foi diretor do Parque Indígena do Xingu na década de 70.