''Entre final dos anos 1950 até meados dos anos 1990 desenrolou-se,
portanto, um período decisivo na vida dos Krenak, no qual
chegaram a perder não só as terras, mas também o reconhecimento
legal de sua existência como grupo específico. Foi um tempo de diáspora
e de exílios no qual ficou evidente que, mesmo sem área própria, mantiveram
e até reforçaram seus laços de identidade cultural que, atacada
e modificada, permanecia e se recriava, por meio da língua, das relações
de parentesco, da memória coletiva e do apego a determinado território
(em torno dos rios Eme e Doce) que serviu como ponto de aglutinação.2
E, por meio de um habilidoso e corajoso movimento de resistência,
persistiram, ganharam aliados, enfrentaram inimigos e efetivaram
a Reconquista de parte de seu território e do reconhecimento,
pela sociedade nacional, de suas condições étnicas diferenciadas.
Esse processo foi conduzido, basicamente, por duas gerações
de Krenak: uma, de mais velhos, nascida em torno dos anos 1910-20
(equivalente aos filhos e netos dos chefes indígenas que haviam efetivado
os primeiros contatos com o SPI) e que faleceu sem obter a
terra prometida".