Apesar de uma primeiro-tenente do Exército e chefe do Serviço de Reabilitação e Fisioterapia do Hospital Central do Exército, no Rio de Janeiro, indígena da etnia Waiãpi nascida no Amapá, ser do grupo de apoiadores do PSC, organizações indígenas do seu Estado de origem não apoiam.
"Reafirmamos que essas organizações e articulações são legítimas representantes do movimento indígena e totalmente integradas a essa rede de articulação política do movimento, na luta pela defesa e promoção dos direitos aos povos indígenas, da qual a APOIANP também faz parte. Reafirmamos ainda que a APOIANP, juntamente com suas organizações membros e suas lideranças indígenas dessa nossa articulação do movimento indígena do Amapá e norte do Pará, são as únicas instâncias legalmente constituídas e autorizadas a falar em nome dos povos e organizações indígenas da nossa região, e qualquer outra pessoa que queira estar alinhada com essa nossa articulação tem que vir dialogar conosco antes de sair se dizendo representante de nossos povos e organizações. Diante disso vimos manifestar que somos veementemente contrários a militarização da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e a nomeação do General Franklimberg para a presidência do órgão indigenista estatal. Não aceitaremos que nossos Direitos sejam utilizados como barganhas ou manobras políticas por oportunistas de plantão.", trecho da nota da APOIANP divulgada no dia
A Associação Terra Indígena Xingu - ATIX, representação jurídica dos 15 povos indígenas do Território Indígena do Xingu no Estado de Mato Grosso também divulgou seu posicionamento contra indicação do general.
"Primeiramente, queremos declarar que somos contra a militarização da Funai e não aceitamos qualquer indicação de nomes vindo do Partido Social Cristão – PSC por entendermos que seus membros são orientados pelas doutrinas religiosas, militares e além de serem protagonistas de atos públicos anti-indígenas. Respeitamos a indicação das lideranças indígenas que participam da discussão em Brasília-DF, especialmente na indicação do indígena Sebastião Machineri. Portanto, por se tratar de um ato administrativo do governo que afeta povos indígenas, chamamos atenção para a necessidade e importância de tornar a consulta aos povos indígenas ser realizada em instancias e tempo adequados de modo a cumprir as determinações da OIT169 sobre consulta livre, prévia e informada." trecho da nota divulgada sobre indicação ao presidente da Funai.
O Conselho Indígena de Roraima – CIR, em nota também informou sua posição sobre o assunto:
"A era da intervenção militar, da tutela, da dominação e tentativa de “pacificação” dos povos indígenas ficou no histórico do século passado. Hoje, vivemos a era do protagonismo, da autonomia, da democracia e do nosso fortalecimento e união, por isso, não aceitaremos as imposições de um governo ilegítimo e partidos (PMDB, DEM, PSC e outros) que querem nos tirar essas conquistas indicando sem consulta livre, prévia e informada, pessoas alheias ao cargo de espaços públicos, frutos de luta e conquista dos povos indígenas do Brasil (FUNAI, SESAI e outros). Não nos curvaremos e nem aceitaremos essa imposição, pois acreditamos na nossa força e luta coletiva dos povos indígenas do Brasil. Nesse sentido, reiteramos o posicionamento positivo da APIB em defesa dos direitos dos povos indígenas, nos manifestando também de que somos contrários à militarização da FUNAI e a intervenção do governo em nossos espaços de conquista. Precisamos, sim, de um órgão indigenista fortalecido e comprometido com as questões indígenas, exercendo a sua missão de forma participativa e comprometida.", trecho da nota do Conselho Indígena de Roraima em apoio à luta dos povos indígenas do Brasil." trecho de nota divulgada.
A Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (ARPINSUL), declarou ser contra militarização da Funai e recolonização religiosa dos Povos Indígenas; os cortes e reduções orçamentárias para ações indigenistas;a portaria 1.907/16 do Ministério da Saúde e a municipalização da saúde indígena.
"A reação deve ser unânime contra este golpe na Funai e na SESAI e não deixar que desmobilizem e desarticulem o movimento e as organizações legitimamente indígenas com essas mentiras estratégicas.'', trecho da nota divulgada no dia 21.
O protagonismo indígena ganha e conquista espaços na sociedade, cada vez mais cientes do seu direito não desejam ser vistos como tutelados ou pessoas incapazes de tomar decisões. A militarização da Funai é vista como uma ameaça ao órgão até mesmo pelo histórico já conhecido por meio da atuação do serviço de proteção ao índio (SPI) na ditadura militar relatadas no
Relatório Figueiredo, algumas das maiores violações de direitos humanos contra aldeias e até extermínio de etnias.
Redação Yandê