Nossa cultura não é sua fantasia

09 FEV 2016
09 de Fevereiro de 2016

 Credit: Joel Mayorga/The Foothill Dragon 

Uma fantasia pode deslegitimar a cultura de outra pessoa marginalizando e inferiorizando outros grupos culturais. Se fantasiar de um individuo de outra cultura por divertimento não é agradável. O que é exótico e motivo de deboche para alguns é muito ofensivo para outros. 

Perguntas e questionamentos sobre apropriação cultural surgem todo carnaval ou épocas festivas em que pessoas vestem fantasias como também no Halloween dos Estados Unidos. Pode ser visto como forma até de expressar a superioridade racial, adotar aspectos de outra cultura a partir de uma posição de privilégio é uma forma de exploração. Expor as identidades de outros como uma tendência ao escolher os elementos de outra etnia ou grupo sem permissão.

A grande maioria que faz isso não percebe como pode ser constrangedor para esses grupos culturais se deparar com pessoas fantasiadas deles como uma brincadeira ou desmerecendo suas culturas. Como se pudessem os representar ou homenagear vestindo algo genérico e folclórico. A liberdade de expressão acaba quando entra a necessidade de maior sensibilidade e respeito. 

Fantasias de indígenas, gueixas, negros, romani, árabes, indianos dentre outras semelhantes são muito comuns e populares. Diferente de representar personagens em uma obra artística teatral ou no cinema, sair pelas ruas vestido com uma fantasia destas é não perceber que não é uma fantasia para seu prazer pessoal. A cultura ocidental adota outras identidades para seu entretenimento, consumindo e explorando o que para seus olhos é puro exotismo.



Existem lojas que vendem artesanato indígena espalhadas em diferentes lugares do Brasil, uma criou um kit neste carnaval, estimulando os foliões a fazer compras. Com hastags como #indioquerapito e #indioquerfolia. E também na propaganda avisando que as compras vão ajudar a gerar renda para os povos indígenas. A medida adotada foi de cocares feitos com canudos em parceria com indígenas Kayapó, por causa da proibição da comercialização de penas.

Não há limites para o mercado e industria cultural. Aqueles que admiram as culturas indígenas e sentem vontade de se vestir como indígenas, devem repensar o contexto que estamos inseridos para compreender como os limites da apropriação, motivos e desejos de consumo podem passar despercebidos quando não se está na pele do outro.



"Vamos brincar de índio ?"


















Foto: Gshow - Participantes do BBB14 fazendo dança da chuva, fantasiados de indígenas e indicado como dica para o carnaval. Um exemplo de  vestimenta e comportamento ofensivo em relação as culturas indígenas.
























Em resposta as apropriações, várias faculdades e universidades em todo os Estados Unidos realizam campanhas de conscientização sobre o respeito as culturas.

Imagem: “We’re A Culture, Not A Costume” Poster Campaigns.

Muito longe de ser um "mimimi", aspectos negativos estão presentes nesta forma de apropriação cultural, que menospreza identidades transformando em meros trajes, desumanizando minorias, generalizando e aumentando a discriminação. 

Pode parecer inocente ou algo inofensivo aos olhos de quem generaliza as culturas ou não sabe o significado deste tipo de ação, mas muitas fantasias criadas são uma versão ridicularizada e satirizada das roupas de outras culturas. 

Transformam japoneses em chineses, romanis em mendigos ou prostitutas, cocares indígenas em espanadores, traços físicos de negros em motivo de piada, muçulmanos em homens bomba e tudo é normalizado, afinal liberdade de deboche é encarado como liberdade de expressão. E se sua cultura é vista como minoria, uma que pensa ser superior pode se apropriar dela como bem entender.


Redação Yandê
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