Muito se fala em dar voz e espaço ao indígena, mas até quando é conquistado esse direito surgem interlocutores, facilitadores, especialistas e muitos outros, para segurar o microfone dessa interlocução.
A palavra dependência com origem no latim, é encontrada na maioria dos dicionários de língua portuguesa, eles costumam traduzir como um estado de sujeição, subordinação, falta de autonomia, maturidade e independência.
Algumas associações, projetos ou organizações indígenas, administradas pelos não indígenas que impõem sua forma de trabalhar e pensar ainda são motivos de reflexão sobre até que ponto foram rompidas as correntes de pensamento e práticas coloniais. Benfeitores se espalham por todos os lados, áreas e segmentos da sociedade, com o discurso de prestar auxilio aos povos indígenas mantendo a politica indigenista e não indígena. Muitos, imbuídos de boas intenções, mas acostumados com a postura etnocêntrica, reproduzindo um paternalismo dominante que não ajuda na conquista de um protagonismo real indígena. Contribuindo para situações de comodismo, aonde muitos acabam aceitando a posição de dominados. Ser autossuficiente é o grande desafio quando braços de tutela cercam por todos os lados.
No fragmento de uma música da banda Oriente, é ironizada a relação do Brasil atual com o colonial:
"Capitania hereditária, vendendo a Amazônia
Que vergonha pátria amada, até quando Brasil colônia?".
As missões jesuíticas são lembradas pela catequização como forma de dominação de diferentes grupos indígenas na América, fazendo o trabalho de os controlar e educar conforme as crenças cristãs. Essa estratégia missionária ainda é reproduzida, podemos observar que muita gente ainda age da mesma forma. Direitos foram conquistados, mas formas de conduzir a questão indígena ainda estão aprisionadas nessas antigas práticas, que podem ser vistas nas relações sociais e profissionais. A dependência social os mantem reféns daqueles que prestam auxilio as suas comunidades ou causas, dificultando a autonomia e desenvolvimento. No fogo cruzado de disputas políticas e ideológicas, também é vista muita pressão psicológica. Sentimentos de inferioridade e impotência são alimentados por causa das ações com o objetivo de controlar o indígena, eles fazem parte do relacionamento com o não indígena.
O novo presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), professor e escritor Domício Proença Filho, em um trecho de uma declaração pública afirmou: "Eu não fui cota. Academia não me elegeu por eu ser um negro escritor”.
Quando o indígena ocupa cargos de destaque, espaços políticos, conquista títulos acadêmicos, possui profissão, não muda a visão e comportamento das pessoas, em sempre olhar o ''índio'' e não aquele ser humano capaz como todos os outros. Mas o ''índio'' que conquistou por mérito ou não tal posição. Ser ''índio" nome inventado pelo colonizador, que nada tem a ver com ser indígena mas sim ser visto ainda como inferior na sociedade ocidental, alguém que precisa sempre de auxilio para viver, chegar a algum lugar ou decidir o que fazer. Aqueles que precisam ser salvos ou mortos, homenageados ou humilhados, por serem diferentes e de culturas que o mundo chamado civilizado tenta decifrar, em um estado de constante encantamento ou repulsa. É o encanto e o medo, daquilo que desconhecem pela diferença.
Por Renata Tupinambá
Coordenação de Comunicação Yandê